Nesta “Carta aos Pregadores”, Beatriz apresenta aquilo que temos percebido ser a visão de Deus e Sua vontade para o ministério de pregação hoje: Ele quer maturidade, crescimento, visão, vida íntegra, dependência Dele e de Sua Unção.
“Por este motivo, eu te exorto a reavivar a chama do dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos. Pois Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor, de sabedoria. Não te envergonhes, portanto, do testemunho de nosso Senhor, nem de mim seu prisioneiro, mas sofre comigo pelo Evangelho, fortificado pelo poder de Deus. Deus nos salvou e chamou para a santidade não em atenção às nossas obras, mas em virtude do desígnio, da graça que desde a eternidade nos destinou em Cristo Jesus.” (2 Tim 1, 6-9)
Esta passagem está norteando a vida da Renovação nos anos de 2014-2015 na nossa caminhada rumo ao nosso Jubileu de Ouro em 2017. Nestes dois anos, de modo mais específico, estaremos focando a questão da MATURIDADE NO ESPÍRITO.
Há pregadores e pregadoras com muitos anos de caminhada e outros que estão apenas começando. Porém, mesmo aqueles que são novos na Renovação, estão fazendo sua caminhada num Movimento que dentro de três anos vai completar 50 anos. Não somos mais crianças, já temos muito tempo de existência, e por isso mesmo, pode ocorrer certo desgaste na busca do objetivo que temos perseguido e do nosso esforço para alcançá-lo, que poderia nos levar a nos conformar com uma espécie de “meia santidade”, ou existe o perigo de nos afastarmos de nosso carisma fundante e não sermos mais o que Deus nos chamou a ser.
O tempo e a maturidade trazem consigo a tentação de trocar as exigências sobrenaturais do amor do Senhor pelas exigências da vida sobrecarregada com responsabilidades e cuidados. Ou então trazem a tentação de ficarmos auto suficientes, acreditando que já sabemos fazer tudo, sabemos pregar, sabemos conduzir uma oração, animar uma assembleia, enfim, perdemos aquela humildade da criança que diz: “Pai, me ensina.” Por isso, os nossos encontros muitas vezes caem na mesmice, os mesmos gestos, as mesmas palavras de ordem, o mesmo jeito de pregar, automático, seguindo padrões fixos e perdemos a beleza da manifestação autêntica de Deus, o inusitado da obra sempre nova do Espírito entre nós.
A Renovação já não é mais uma criança, não é mais jovem, ela está na idade madura. É um estágio em que a escolha tem que ser feita mais uma vez, entre Jesus e o mundo, entre o heroísmo da caridade ou a mediocridade, entre a cruz e certo conforto, entre a santidade ou as concessões que fazemos. VIVER A RADICALIDADE DA CONVERSÃO EM CADA FASE DE NOSSA VIDA NO SEGUIMENTO DE JESUS É CONDIÇÃO ESSENCIAL PARA CONTINUARMOS VIVENDO. Cada um de nós, ao ser chamado lá no início, não importa se faz muito ou pouco tempo, com certeza fez escolhas radicais, abandonou velhos hábitos, mudou de vida. Devemos sempre pedir a graça de não perder a generosidade do amor, nem a coragem de enfrentar as situações que precisam ser mudadas. O amor do Senhor deve nos constranger sempre. É imaturidade não ser constante e fiel ao nosso primeiro amor, ao nosso primeiro chamado. Hoje, como quando começamos, devemos estar prontos para mudar, para abandonar velhos hábitos e para amar generosamente. Mas é só na força do Espírito que conseguiremos fazer isso. A Renovação é chamada a viver a vida no Espírito, mas isso não acontece automaticamente. É preciso a radicalidade da escolha por Jesus, a conversão a Ele em cada encruzilhada da nossa vida para estarmos sempre cheios do Espírito Santo. É tempo de sermos humildes o bastante para sermos derrotados pelo Cristo humilhado e crucificado e aceitarmos entrar numa nova estrada, a do Espírito, da fé purificada, deixando de lado as seguranças e vaidades.
Teremos que empregar a nossa vontade como da primeira vez; o esforço que fizemos nesse sentido deve ser feito mais uma vez, pois depende de nossa vontade e ela precisa ser inundada pela vida comunicada por e através de Jesus.
O Papa Francisco, na Evangelii Gaudium, 3 diz “Todos os cristãos, em qualquer lugar e situação que se encontrem, estão convidados a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Cristo… Quando se dá um pequeno passo em direção a Jesus, descobre-se que Ele já aguardava de braços abertos a sua chegada. Ninguém nos pode tirar a dignidade que esse amor infinito e inabalável nos confere. Ele permite-nos levantar a cabeça e recomeçar. Não fujamos da ressurreição de Jesus; nunca nos demos por mortos, suceda o que suceder. Que nada possa mais do que sua vida que nos impele para diante.”
Peçamos a Jesus para entrar mais uma vez na nossa vida. Reafirmemos a resposta ao seu chamado. Peçamos para retirar os obstáculos à sua graça, nos dar forças, para nos dar o Espírito. Peçamos que rogue por nós ao Pai para que nossa vida e missão sejam, mais uma vez, abençoadas.
A Renovação chegou à maturidade em idade, mas a Igreja vem nos interpelar, pedindo que essa maturidade em idade se expresse em maturidade eclesial. Em 1998, o então Papa e agora São João Paulo II, falando aos Movimentos e Novas Comunidades no I Congresso Mundial dos Movimentos Eclesiais disse: “Os Movimentos já são uma realidade dentro da Igreja, pois já deram prova de sua fidelidade e também já atestaram a genuinidade de seus carismas. Hoje abre-se uma nova etapa, a da maturidade eclesial. A Igreja espera de vós frutos maduros de comunhão e empenho.” Em 2006, em Bogotá, também falando aos Movimentos e Novas Comunidades, Bento XVI reitera essas palavras de São João Paulo II.
A maturidade eclesial de que nos falam os Papas não é conquistada senão a partir também de uma maturidade no Espírito. São Paulo nos fala deste tipo de maturidade como o “crescimento do homem interior” na carta aos Efésios, capítulo 3, versículos de 4 a 21. Devemos orar com esta Palavra, pedindo que, em eternidade, Jesus coloque no nosso coração a grandeza do seu amor, na sua largura e extensão e profundidade, para sermos maduros nos nossos relacionamentos, nas nossas atitudes, nas nossas escolhas. Cristo é o modelo de maturidade humana e espiritual.
Bento XVI dizia em 2006: “A cultura dominante de nossa época tende a reproduzir personalidades fragmentadas, fracas, inconsistentes. As pessoas vivem como se a verdade não existisse, como se o desejo de ser feliz que está no coração do homem fosse destinado a ficar sem resposta. A força do líder, a força de todo o ser humano, está em encontrar Aquele que é a Verdade e reproduzir esta verdade dentro de si e nos seus relacionamentos.”
COERÊNCIA, VERDADE, CARÁTER são características essenciais de uma pessoa espiritualmente madura. HB 2, 4: “Eis que sucumbe quem não tem a alma limpa, mas o justo vive pela fidelidade.”
Se não passarmos pelo processo de conversão sempre atual, diário, a casa cai, desmorona, pois não terá sido fundada sobre a rocha. O Senhor tem nos pedido, ao longo dos anos, através de profecias e palavras de sabedoria que nos comprometamos com a verdade, que retiremos de nossa vida toda dissimulação, hipocrisia e falsidade.
Numa reunião do Conselho Nacional, assim nos falou o Senhor: “Meus filhos, que seja expulso do meio de vós todo o pecado e toda falta de bom testemunho. Precisais estar preparados, expulsai todo pecado, toda mentira, toda dissimulação de vossas vidas. Fazei um exame de consciência e retirai de vossas vidas todo pecado por menor que seja. Eu quero fazer obra nova, mas preciso que purifiqueis vossas vidas.”
A pessoa imatura faz coisas erradas e não tem coragem de assumir. A pessoa madura admite o erro e pede perdão. A pessoa imatura não enfrenta as situações de frente, ela dissimula. A pessoa madura, ao contrário, tem a firmeza interior e isso lhe dá autoridade aos olhos dos outros. Como pessoas maduras, temos que enfrentar as situações difíceis. Se assim o fizermos, os outros perceberão em nós a verdade e a coerência e então quando nós falarmos eles escutarão. De Jesus diziam: “Ele fala como que tem autoridade.” Imaginemos se Jesus, ao invés de enfrentar os fariseus e os líderes religiosos da época, dizendo claramente a eles o que pensava de suas práticas, fosse falar mal deles pelas costas, fosse fofocar deles com os seus discípulos. Isto o diminuiria, o tornaria fraco, o faria parecer inconstante e infiel aos olhos dos outros e Ele perderia toda autoridade. Nós temos que nos encontrar sempre com Cristo, aprender com Ele, nos evangelhos, como sermos pessoas de estatura feita, isto é pessoas firmes e maduras.
A maturidade nos apresenta como desafio a coragem de iniciar, ou de reiniciar um programa de crescimento com a ajuda do Espírito Santo. São João Paulo II disse para os Movimentos e Novas Comunidades: “Que grande necessidade há hoje de personalidades maduras que estejam conscientes de sua identidade batismal e de seu chamado e missão na Igreja e no mundo.”
Um exemplo de imaturidade que a Bíblia nos apresenta se encontra no Livro de Números, capítulo 13. A Reação dos outros exploradores e do povo é imatura (Num 13,28. 31-32. 14,1). Bastou que aparecessem as dificuldades para que se acovardassem, condicionados por seu passado de escravidão. A grande empresa da conquista fez aflorar seus complexos que foram gerados ao longo de 430 anos de trabalhos forçados. Sua postura é oposta à de Caleb e Josué. A postura, a atitude diante dos fatos depende de uma convicção interior. A realidade se matiza de acordo com a cor do cristal com o qual se olhe. A Reação de Caleb e Josué é madura espiritualmente: Eles avaliam a situação com os olhos da fé, comparam a dificuldade com o poder de Deus e não com as suas próprias forças (Números 13, 30b e 14, 7-9). A nossa atitude interior diante das grandes dificuldades de nossa vida deve ser a de conquistar-se a si mesmo, que é o território mais difícil de conquistar e que só a pessoa madura consegue.
Muitos dos nossos problemas presentes não são mais que o reflexo de outros do passado que não foram resolvidos. Todo círculo que não tenha sido fechado no passado, levantar-se-á ameaçador no presente, cobrando juros de não ter sido atendido. Todo fantasma criado no nosso interior com a matéria-prima de um conflito não solucionado, faz crescer a dificuldade presente. Muitas vezes a situação a resolver não é a atual, mas a anterior que, como uma âncora, paralisa e incapacita para navegar na vida e gera o complexo de inferioridade que se manifesta sempre em duas direções:
a) supervalorizamos o inimigo. É como uma lente que faz crescer os problemas, apresentando-os como gigantes invencíveis.
b) menosprezamos a nós mesmos. Fazemos de nós o conceito de simples gafanhotos. Não assumimos nossa exata situação e subestimamos o nosso valor de filhos e filhas de Deus, do Senhor de todo o universo, do Rei Todo-Poderoso.
Algumas atitudes que nos ajudam a sair da imaturidade para a maturidade de pessoas que não são conduzidas pelos acontecimentos, mas são senhoras e protagonistas dos mesmos:
Jesus fecha com o seu sangue os círculos que foram deixados abertos no passado. Em Jesus nós temos uma nova vida, uma nova realidade. Devemos nos apoderar da mente nova que temos em Cristo. Isto é ser maduro.
Exemplo bíblico de maturidade espiritual: Atos 4, 23-31
Ao ouvirem as más notícias, os apóstolos e discípulos de Jesus fizeram o oposto do povo que errava pelo deserto, conforme narrado em Números 13. Eles glorificaram a Deus e não murmuraram. Reconheceram que pelas suas próprias forças não poderiam fazer nada e por isso pediram a “Força do Alto”: “Agora, pois, olhai para as suas ameaças e concedei aos vossos servos que com todo desassombro anunciem a vossa palavra. Estendei a vossa mão para que se realizem curas, milagres e prodígios pelo nome de Jesus, vosso santo servo.” (Atos 4, 29)
Para sermos pessoas maduras espiritualmente e dentro da Igreja, precisamos fazer, com a ajuda do Espírito Santo, uma revisão de vida. Olhar para a vida com os olhos do Espírito da Verdade e nos perguntar: ONDE ESTÁ O DESAJUSTE, ONDE ESTÁ A IMATURIDADE? Como está a nossa vida pessoal, familiar, profissional, como está a nossa vida de serviço e de missão? Se sinceramente pedirmos ao ES que nos faça olhar para a nossa vida com os olhos da verdade, Ele vai nos mostrar muitas coisas e nos dará também a sabedoria para ir resolvendo tudo, de forma madura, olhando as coisas de frente, de forma consciente, na paz.
Em 2007 o Senhor falou em profecia ao Conselho Nacional: “Quero que voltem a esperar milagres e a enfrentar os problemas de sua vida com fé. Façam uma revisão de vida, renunciem aos desajustes. Eu quero para a vida de vocês ordem e equilíbrio.”
Em confirmação a esta profecia recebemos a passagem de Isaías 45, 15 a 18. Ao relembrar esta profecia e a palavra de confirmação, somos novamente convidados a deixar que Deus nos ajude a colocar ordem e equilíbrio na nossa vida, pois estas são características de pessoas maduras.
DEUS NÃO NOS DEU UM ESPÍRITO DE TIMIDEZ, MAS DE FORTALEZA, DE AMOR, DE SABEDORIA. A ELE QUE, PELA VIRTUDE QUE OPERA EM NÓS, PODE FAZER INFINITAMENTE MAIS DO QUE TUDO QUANTO PEDIMOS OU ENTENDEMOS, A ELE SEJA DADA GLÓRIA NA IGREJA, E EM CRISTO JESUS, POR TODAS AS GERAÇÇOES DE ETERNIDADE. AMÉM. (cf 2 Tim 1, 7 e Ef 3, 20-21).
Maria Beatriz Spier Vargas
Coordenadora Nacional do Ministério de Pregação da RCC Brasil