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“É Natal cada vez que você sorri e estende a mão para seu irmão”

Bem Aventurada Tereza de Calcutá

Depois de um ano na cidade de Mbarara, na Uganda, aqui estamos nós na cidade de MWIZI. Após a campanha que os brasileiros generosamente ajudaram com os medicamentos para os enfermos com AIDS, desta vez voltamos à vila, mas de um jeito diferente: como quem pisa no solo que o Senhor nos deu como lugar de missão.
Na noite anterior estávamos bem ansiosas, aguardando este momento. Deixamos tudo pronto porque sairíamos bem cedo no dia seguinte. Os sonhos se tornariam reais. E Deus fora confirmando os nossos passos, como quem dissesse: “Estão no caminho certo, Minhas filhas”.

Nos dias anteriores estava chovendo tanto por aqui. Nesta região de montanha, se chove muito, a gente não consegue chegar. Um dia antes da nossa partida, não caiu uma gota do céu. Vibramos! Nós teríamos boa estrada.

Dessa vez, já não iríamos olhar pelos doentes, mas pelas crianças que estão fora da escola. A paróquia nos acolheu e o pároco designou um líder católico para nos acompanhar e levar até aquelas famílias que mais necessitavam. E para nós não importava qual era a fé que professavam, tanto que encontramos católicos e protestantes.

Para cadastrar estas cinquenta crianças, encontrar as que mais precisam, escolheu-se o período de aulas. Poderíamos então observar em quatro dias as casas e em quais delas havia crianças. E as encontramos, em número extraordinário. Algumas estavam apenas paradas, sentadas sobre o chão batido em suas casas. Outras andando pela rua e outras tantas, lavrando a terra.

Foi muito cansativo. Tivemos que andar bastante. Em um dos dias, em que o sol parecia um dos mais escaldantes desta jornada, já eram quase três horas da tarde e não havíamos almoçado ainda. Estávamos em um lugar que foi necessário percorrermos uma longa distância e como o desejo de ir ao encontro destas crianças era grande, nos desatentamos quanto ao horário.

 

Depois de mais uma casa visitada e finalizada o cadastro, nos levantamos para prosseguir a jornada. Quero dizer, os que estavam comigo levantaram-se. Só lembro-me de dizer a Fabiany: “Faby, eu estou sem forças”. Ela me socorreu rapidamente. Eu não conseguia ver mais nada, tudo estava escuro a minha frente.

Por causa da fraqueza, eu não conseguia ficar de pé; e deitei-me ali mesmo, no mato. Precisei voltar para paróquia. A missão daquele dia tinha-se encerrado pra mim. Hoje damos boas risadas disto, porque me rendeu alguns dias com coceiras pelo corpo.

Em contrapartida, pudemos ver com nossos próprios olhos a situação dessas famílias, ouvir sua história de vida, rezar com elas. A cada formulário que íamos preenchendo, o nosso coração se enchia de compaixão. A cada casa que entrávamos e víamos as condições que viviam, afirmávamos entre nós: “estamos no lugar certo”.

Encontramos muitas crianças órfãs em que os pais morreram ou, na maioria dos casos, simplesmente as abandonaram e que estão sendo cuidadas pela avó ou algum tio caridoso. Em uma visita encontramos um garoto cujo pai é alcoólatra – outro grande sério problema por aqui – e sua mãe o deixou com a avó e nunca mais voltou. A avó partilhou conosco que muitas vezes ouvira seu neto pedir para ir à escola, mas ela não tinha recursos. Ao nos contar isso, começou a chorar, pois alguma ajuda tinha finalmente chegado para ela.

Outra mãe, 26 anos de idade, estava com quatro crianças pequenas para cuidar sozinha. Seu esposo estava na prisão e ela trabalha todos os dias arando a terra para os outros, recebendo um valor insignificante diariamente que usa para pagar o que o marido roubou na vila de outra pessoa. Casara-se aos 16 anos de idade. Alguém nos testemunhou que isto é bastante comum entre as adolescentes, pois não tem muitas perspectivas de vida nestas vilas pobres.

Em outra casa o pai estava visivelmente bêbado, e não sabia nem nos dizer o nome dos filhos. E o problema não era só o álcool: muito comum os homens terem por aqui mais de uma mulher. Alguns mantem a situação tendo mais de uma mulher como esposa, outros a mantem até certa altura e depois abandonam a mulher mais velha com os filhos e unem-se a mais jovem. Temos então muitas crianças, com muitos irmãos de mães diferentes. Na maioria dos lares visitados não encontramos qualquer responsabilidade paterna do progenitor.

Entre as 50 crianças, para melhor compreensão, algumas estatísticas:

- 70% são meninas e 30% meninos: a dura realidade para as meninas, que são preteridas aos meninos quando a família tem a possibilidade de enviar alguém à escola.

- 56% são protestantes e 44% são católicas: aqui é comum que junto à paróquia se tenha uma escola administrada pela mesma, confirmando-nos ainda mais a presença da Igreja Católica nos trabalhos sociais.

- 78% estão entre 3 a 9 anos: idade da iniciação escolar aqui em Uganda. Muitos já estão tardios, passam dos 40%.

- 80% nunca foram à escola: os outros começaram, mas precisaram parar por não terem condições, já que o ensino público não é totalmente gratuito, visto que materiais, como uniforme, que são obrigatórios, são de responsabilidade financeira da própria família.

Podemos, a partir do cadastro, ter outras informações relevantes, como o número de crianças órfãs e as que estão acometidas pelo HIV. Porém estas são informações que teremos mais cuidado para divulgá-las. Tudo foi devidamente autorizado pelos seus pais e/ou responsáveis. O projeto quer, posteriormente, dar assistência física e psicológica a estas crianças com profissionais adequados.

Nelson Mandela, um grande líder mundial, especialmente para os africanos, disse que nunca se deve trair promessas feitas às crianças e que a educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo… Estamos apenas começando!

 

Projeto Kareebi 

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