A missionariedade não é só uma questão de territórios geográficos, mas de povos, de culturas e de cada pessoa, porque “os confins” da fé não atravessam só lugares e tradições humanas, mas o coração de cada homem e de cada mulher”. (Papa Francisco – Carta ao Dia Mundial das Missões)
Depois de retornarmos da nossa “jornada” no Brasil, tivemos a alegria de ministrarmos o querigma no Seminário de Vida no Espírito Santo aqui na Universidade de Mbarara/Uganda (centro da cidade). E desta vez o nosso grupo de formadores estavam representados por Uganda, Zimbabwe, Inglaterra e Brasil. Quatro nações em comunhão para anunciar àqueles universitários o Amor de Deus, e com certeza saíram todos transformados e comprometidos como novos discípulos da efusão do Espírito Santo. Tanto que alguns dentre eles após partilharmos sobre o nosso projeto de construir o centro missionário da RCCBRASIL nas colinas, disponibilizaram-se a ajudar nosso que for preciso. Aleluia!
Há aproximadamente uma semana depois do seminário o Mestre levou-nos a um novo passo. Já nos encontrávamos no mês de outubro. E numa segunda-feira livre (dia separado aos afazeres pessoais na missão), Rita e eu combinamos de ver um filme no fim da noite. Optamos por ver “Marta e Maria”, baseado na história real de duas estrangeiras, que tiveram seus filhos mortos pela malária aqui na África e após a dor da perda, desenvolveram um belíssimo projeto social para ajudar as crianças africanas com malária.
Bem amados, o filme foi bastante encorajador à nossa missão, pois de fato, a malária aqui é um “gigante a ser vencido”. Mas o que não imaginávamos e nem esperávamos é que no dia seguinte o conheceríamos.
Sim, o conhecemos! Na manhã seguinte comecei a sentir os sintomas que milhares aqui na África enfrentam e muitos infelizmente não conseguem tratar. A malária tem suas especificidades e com cada uma delas o Senhor fez-nos melhor entender para viver o lema da nossa missão: “Tocar as chagas de Jesus”, por meio das feridas deste povo tão sofredor. E tocando-as sermos curados de todas as nossas incredulidades, pois “por suas chagas fomos curados” (Is 53,5).
Grandes lições. O quanto aprendi, aprendemos! Tempo de extremada manifestação do amor do Pai a nós. O Senhor zelou-me pelas mãos dos médicos, com todo o tratamento necessário a combater a malária. Cuidou-me Ele com especial afeto pelas mãos de minha amada companheira de missão, Rita de Cássia. Sinal de verdadeiro suporte. A cada crise, ela esteve o tempo todo do meu lado. Minha irmã, somente Deus a retribuir toda a minha gratidão. Agradeço também a todos os que se uniram em intercessão pela minha recuperação. Inesquecível experiência de amar e deixar-se ser amado.
Poderia então dizer que temos a bênção de experimentar o “bem das chagas”. Chagas abertas, expostas e que precisamos tocá-Las. Pois precisamos “vencer o medo de sujarmos as mãos para ajudar os necessitados” (Papa Francisco).
Mais que “sujarmos as mãos” embrenhar-nos numa frutífera vida fraterna com os nossos irmãos. Ah, queridos irmãos, antes do que esperamos, o Senhor já vinha preparando uma boa nova a nós. É sabido de muitos que nós da RCCBRASIL temos o sonho de construir um centro missionário no topo da colina que é considerada a mais pobre de Mbarara. E que enquanto esperamos pela providência divina, estamos morando na comunidade Yesu Ahuriire. Na semana passada, quando em oração estávamos, o Senhor deu-nos uma ordem de retirada de onde estamos morando e deslocarmos a procurar um abrigo lá nas colinas. Lá não temos ainda terreno algum. Só o projeto. Intensificamos as orações e decidimos falar com o escritório da RCCBRASIL sobre o que Deus havia nos pedido. Acolheram a nossa partilha e partimos então aos passos concretos.
No outro dia reunimo-nos com Pe. Emmanuel Tusiime (fundador da comunidade onde estamos morando) e dissemos a ele do nosso desejo de mesmo sem a terra comprada morarmos lá. Ele disse que poderia oferecer-nos uma casa inacabada, localizada em frente do terreno que precisamos comprar. Só precisaríamos fazer os acabamentos necessários e nos mudarmos para lá. O que não esperávamos no dia seguinte, era receber a proposta de uma congregação religiosa que tem acompanhado o nosso sonho. Eles estavam a nos oferecer um pedaço de terra com uma casa que seria finalizada a sua construção até dezembro deste ano. Poderíamos ali desenvolver o que quiséssemos, mas no centro da cidade de Mbarara. E ali permanecermos o tempo necessário sem pagarmos nada.
“Confortável” e tentadora a 2ª proposta, mas quando fomos até as colinas para ver as condições da casa que Pe. Emmanuel havia nos dito, os nossos corações não nos permitiu desistir do povo e do lugar que Deus separou a nós. Mwizi (topo da colina) é o nosso lugar, a nossa missão. Sabemos que a espera continua e que Deus tudo providenciará no tempo oportuno. Os próximos passos virão e os daremos seguindo sempre o Senhor do caminho. E confio que da próxima vez que dialogarmos já teremos como vizinhança os irmãos de Mwizi, às vésperas do Natal.
Finalizo a nossa conversa agradecendo pela tua companhia e fidelidade aos projetos de missão da RCCBRASIL e peço ardorosamente que ajudem-nos a divulgar a nossa missão, pois há muito a caminhar.
Despeço-me com a benção concedida pelo Papa Francisco a todos os missionários no dia mundial das missões:
“Abençoo, de coração, os missionários e as missionárias, todos aqueles que acompanham e asseguram esta fundamental tarefa da Igreja, para que o anúncio do Evangelho possa ressoar em todos os cantos da terra. E nós, ministros do Evangelho e missionários, experimentaremos ‘a doce e confortante alegria de evangelizar’ (Paulo VI, Exort. Apos. Evangelii Nuntiandi, 80)”.
Missionária Fabiany de Souza Silva
Coordenadora Missão RCCBRASIL África
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