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Uma das ações da missão Uganda da RCCBRASIL é possibilitar às crianças carentes o acesso à escola. Este trabalho foi inspirado primeiro por meio da oração e depois foi confirmada a necessidade pela realidade das comunidades. Partilho abaixo sobre o que nos “encoraja a seguir decididas nesta direção”:

“Logo após a celebração da Palavra (como estávamos sem um padre, neste domingo não houve a Missa), um jovem parou-me. Primeiramente saudou-me com boas vindas por estar novamente em Uganda. Em seguida, me perguntou se eu tinha algum tempo disponível, pois precisava conversar.

Agendei com ele logo após o almoço. Este era conhecido nosso e em outras ocasiões havia partilhado um chamado especial à vocação sacerdotal e pedira que orássemos nesta intenção.

Chegada a hora, sentamos debaixo de uma árvore e ele começou a contar-me sua história de vida. Um dos pontos que nos marca profundamente nessa missão é ouvir os jovens. A história de luta e sofrimento de cada um, bem diferente da minha e de milhares de outros jovens.

Irei preservar seu nome, mas na língua local significa ‘alguém que é intimamente conectado com Deus’. E vocês perceberão que, neste caso, o nome diz muito do que é a pessoa.

Ele faz parte de uma família de seis filhos e foi o terceiro a nascer. Durante sua infância, moravam todos em uma pequena casa de apenas um cômodo.  Esta fora dividida para que seus pais pudessem dormir em um lugar reservado e ele, com mais seus cinco irmãos, se ajeitavam como podiam no outro espaço que, ao mesmo tempo, era também a sala.

Das seis crianças, os pais tiveram condições financeiras para enviar à escola apenas as duas mais velhas, as outras permaneceram em casa. Entretanto, mais tarde este jovem, que partilhou comigo, pôde também estudar.

Aqui em Uganda é muito comum nas refeições termos uma espécie de massa branca, feita a partir de uma farinha do milho. Normalmente, a comemos com algum cozido com molho. Como não tinham condições, eles comiam essa massa branca ainda quente, pois se esperassem quando fria ela se tornava mais sólida, o que impossibilitava comer sem algum tipo de molho: ‘E em seis minutos já tínhamos terminado a refeição’, disse-me ele.

Antes de passarem a ter essa alimentação, comiam somente arroz, o que tornava mais difícil, pois em um espaço curto de tempo estavam sentindo fome de novo e a escassez não lhes permitia fazer pequenas refeições intermediárias.

Com olhos lacrimejantes, contou-me que certa vez instalara perto de sua casa um pequeno comércio e que lá eles sabiam que as pessoas comiam coisas boas.  Da sua casa podia sentir o cheiro da comida que estava sendo preparada naquele lugar, mas a sua realidade lhe permitia experimentar somente isto: sentir o aroma!

A infância deste jovem se assemelha a de tantas outras aqui em Uganda. Sobretudo quando diz respeito à educação. As famílias, em sua maioria, com grande número de filhos e contando com poucos recursos, não conseguem garantir acesso a este direito primário.

Este que me contou sobre si mesmo, em determinada altura de sua adolescência, precisou parar os estudos e buscar um trabalho, a fim de ajuntar um pouco de dinheiro para que mais tarde pudesse retornar. Isto levou seis anos de sua vida sem frequentar a escola.

Ele me disse com certo pesar: ‘com a idade que tenho, seria para estar já na metade de uma graduação superior, não fossem todos aqueles anos sem estudar ’.  Porém é uma tristeza que logo se dissipa ao partilhar a decisão da vocação encontrada: ‘agradeço as vossas orações, estou me preparando para ir ao Quênia, onde a congregação prepara os seminaristas’.

Ainda criança, ele sentira um fascínio pelo Altar da Igreja e a aspiração de estar lá, servindo. Uma vez ele expressou esta vontade e um catequista o colocou para auxiliar, ensinando-lhe. Ele mal conseguiu expressar a alegria que experimentou: ‘vi que tinha jeito para a coisa’. E a comunidade notara a sua aptidão. “Com confirmação da comunidade?” – pensei comigo – “tenho noção da sua importância num processo de discernimento”.

E ele concluiu com um pedido: ‘Desejo que agora orem pelos meus pais. Penso que daqui a dez anos será a minha ordenação. Peçam a Deus que até lá eles possam ainda estar vivos. São muito católicos. Gostaria que eles vissem o seu filho sendo ordenado padre’.

Voltei para meu quarto com o coração comovido. Eu disse a ele que se esperava que eu pudesse lhe dar algum tipo de conselho, que desistisse da intenção. Na verdade, era Deus que estava a falar comigo por meio de seu testemunho e confirmando o projeto missionário da RCCBRASIL aqui nestas terras.

Diante deste testemunho, quero convidar você a incluir em suas orações o pedido deste jovem. Sem dúvida nenhuma, um jovem intimamente conectado com Deus! Amém, aleluia!”

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